Havia algo de diferente no selo presidencial atrás de Donald Trump durante um discurso feito na terça-feira (23) ao grupo conservador jovem "Turning Point USA" em um hotel em Washington.
No lugar da águia careca, que aparece no selo oficial do presidente dos Estados Unidos, a imagem mostrava uma águia de duas cabeças, que se assemelha à do brasão oficial da Rússia.
Em vez de segurar um conjunto de flechas na garra esquerda, a águia segurava tacos de golfe - uma referência a um dos passatempos favoritos de Trump.
O pássaro mostrado no selo atrás de Trump também é parecido com o das bandeiras da Sérvia, Albânia e Montenegro.


O selo presidencial americano (à esq.); Trump durante o discurso da terça-feira 23); o brasão de armas da Rússia (à dir.) — Foto: Domínio público/AFP/Domínio público


O primeiro a notar a diferença foi o jornal "The Washington Post". Um leitor citou um site que vende mercadorias com o que parece ser o mesmo selo falso. Nas imagens do site, as palavras no banner da paródia da águia dizem "45 es un títere", espanhol para "45 é um fantoche". Na mercadoria do site, o pássaro também aparece segurando dinheiro nas garras direitas.

Na imagem original, a águia segura, com o bico, uma faixa com o lema dos Estados Unidos, "E pluribus unum" - "de muitos, um".
Uma projeção do verdadeiro selo presidencial estava centrada atrás do nome de Trump quando ele subiu no palco, diz o "The Washington Post". O verdadeiro selo também estava no púlpito de onde o presidente falou por 80 minutos. (Veja fotos abaixo).


O selo verdadeiro apareceu em frente ao púlpito de onde Trump falou por 80 minutos. — Foto: Nicholas Kamm/AFP


O selo correto também apareceu projetado atrás do nome de Trump quando ele subiu ao palco. — Foto: Nicholas Kamm/AFP

Demissão

Um porta-voz da Casa Branca disse ao "The Washington Post" que não viu o selo falso antes de ele aparecer na tela, e que enviou perguntas sobre o incidente ao "Turning Point USA", grupo de jovens conservadores para o qual Trump discursou.
Na manhã desta quinta-feira (25), o "Turning Point USA" anunciou que havia demitido o integrante da equipe de vídeos responsável por projetar o selo falso.
    "Nós demitimos o indivíduo", um porta-voz do grupo disse ao jornal. "Não acho que tenha sido uma intenção maliciosa, mas mesmo assim".
O porta-voz chamou o erro de "inaceitável" e disse que foi o resultado de uma busca online apressada para encontrar uma segunda imagem do selo presidencial a ser mostrada atrás de Trump.

Foi descuidado, diz ex-advogado da Casa Branca


Atrás de Trump, no selo presidencial, aparece a imagem de duas águias, semelhante à do brasão de armas da Rússia. — Foto: Alex Wong/ Getty Images North America / AFP

Para Richard Painter, que trabalhou como o principal advogado de ética da Casa Branca entre 2005 e 2007, durante a presidência de George W. Bush, a equipe de Trump deveria ter conhecimento prévio e controle sobre imagens e vídeos exibidos em eventos em que o presidente aparece.
Ele chamou o incidente de "descuidado" em entrevista ao "The Washington Post."

        "Você deve ter controle sobre o que o grupo privado ["Turning Point USA"] está fazendo, o que eles estão colocando na tela e qualquer outra coisa", disse Painter, agora professor de direito na Universidade de            Minnesota. "Permitir que alguém projete algo na tela que não seja controlado pela Casa Branca é muito estúpido."

Um estatuto do Congresso americano prevê que o selo presidencial não pode ser usado para sugerir falsamente patrocínio ou aprovação pelo governo dos EUA, mas Painter e outros especialistas legais dizem que as paródias do selo estão protegidas pelo direito de livre expressão da Primeira Emenda à Constituição do país.
A projeção parecia ser uma brincadeira - mas é provável que isso envergonhe um presidente particularmente preocupado com a imagem, disse Painter.
"Alguém vai estar em apuros", disse o professor, "mas deu uma boa risada."

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